segunda-feira, 27 de junho de 2011

Agência de matrimônio casa cães emergentes na Índia


Seus rostinhos solitários aparecem nos anúncios, envergonhados e procurando por amor. “Oi, meu nome é Musti”, diz um cartaz. “Sou um bom partido, educado e atraente. Preocupo-me com a saúde e adoro cenouras. Sou um homem de uma só mulher e prometo cuidar bem de você.”

E lá está Foster, com sua papada e olhos cobertos por pálpebras espessas. “Foster se recusa a comer até que encontremos uma namorada para ele!”, declara o cartaz.

Na Índia fissurada em matrimônios, onde o casamento é um evento central da vida, esses cartazes poderiam ser facilmente de solteirões de pequenas cidades em busca de amor, pressionados pelos pais ansiosos por uma noiva.

Mas a moça adequada que esses solteiros procuram é peluda e quadrúpede. Encontrá-la, no entanto, não é fácil. “Tenho procurado por meses, mas sem sorte”, disse Kunal Shingla, que está atrás de uma parceira para Foster, seu basset hound de dois anos.

A elite de Nova Déli há tempos aprecia cães de raça pura e, com mais indianos se tornando parte da classe média, ter um cão pomerânio, shih tzu ou mastim napolitano preso à coleira virou um símbolo de nova riqueza e status.

Diferente dos vira-latas de quintal do passado, esses cães, como os mimados bichos de estimação de ocidentais abastados, são parte da família. Com indianos jovens de classe média esperando mais tempo para se casar e ter filhos, e com os pais impacientes para terem netos, cães de pedigree preenchem um vazio criado pela realidade da vida urbana moderna.

“Hoje as famílias são menores, apenas marido e mulher, que não têm ninguém com quem conversar”, disse Partha Chatterjee, um conhecido jurado de exposições de cães na Índia. “E eles têm acesso a todos esses programas de televisão em que podem ver como os cães são tratados no exterior. Eles desejam esse tipo de símbolo de riqueza.”

Mas os cães da emergente classe média indiana têm um problema. Todos, ao que parece, desejam um cão macho. E por se tratar da Índia, todos também querem que seu cão tenha uma companheira. A esterilização simplesmente está fora de questão.

“Ele é um bom cachorro”, Shingla, um próspero executivo de marketing que trabalha na fábrica da família, disse sobre Foster. “Quero que ele tenha toda a felicidade em sua vida.”

Há três meses, ele colocou anúncios com a foto de Foster de língua para fora em pet shops de toda Nova Déli, e em fóruns populares de bichos de estimação, buscando por um basset hound fêmea. Mas ele não teve nenhum retorno.

A queda por cães machos dos indianos é em parte o resultado de uma preferência social ao sexo masculino, dizem criadores. Em algumas regiões da Índia, os filhos são muito mais valorizados do que as filhas. Tal fato é refletido na razão desequilibrada de meninos e meninas em alguns Estados, evidência de aborto ilegal de bebês do sexo feminino, uma prática ainda disseminada.

Também existe a percepção, falsa em grande parte, de que fêmeas dão mais trabalho do que machos por causa de seus ciclos menstruais. Além disso, no passado, quando a maioria das pessoas tinha cães para tomarem conta da casa, a percepção de que os machos eram mais agressivos dava a eles uma vantagem.

Sandeep Chopra, cuja empresa, Classic Kennels, fornece cães para pet shops do país inteiro, disse que pessoalmente preferia fêmeas por seu temperamento dócil. Já seus clientes são outra história.

“Quando um cliente compra um cão, 99% adquirem um macho e, posteriormente, quando precisam de uma companheira, eles encontram problemas”, Chopra disse.

Ele tentou montar uma agência de encontros canina, relacionando machos e fêmeas da mesma raça, mas era simplesmente impossível encontrar combinações. Segundo ele, a maioria das fêmeas permanece com criadores profissionais, que preferem cães procriadores. Isso também mantem a oferta de raças populares limitada e se as pessoas não conseguirem gerar filhotes em seus quintais, elas não cortarão os lucros dos criadores.
 

Meu Cãozinho © 2009.