domingo, 20 de fevereiro de 2011

“Eu converso com cachorros”

Revista Época São Paulo

SOU DE SEBASTIÃO LARANJEIRAS, na Bahia. Eu queria ter um cachorro desde os 14 anos, quando trabalhava na roça com meu pai. Aos 17, resolvi me aventurar em São Paulo, sem dinheiro no bolso. Meu cunhado, que já morava aqui, montou uma pet shop e me chamou para trabalhar como tosador.

NASCI PARA TRABALHAR COM ANIMAIS. Já tentei até ser motoboy, mas não era minha praia. Comecei na periferia, ganhando pouquinho, e cheguei aonde estou, em uma pet shop de luxo, há cinco anos. O tosador não ganha mal, dá para sobreviver. Tenho carro, moto, meu terreno, mas também fiz bico durante três anos, entregando pizza.

A MAIORIA DOS CÃES FICAM AGITADOS NA TOSA. É preciso lidar com o temperamento deles. Eu converso, trato como se fossem meus filhos. O maior cão que eu já tosei era da raça kuvasz, tinha uns 60 quilos. O menor era um maltês, com 900 gramas. Também já pintei cachorro de rosa, azul e laranja. Ficam bonitos, com um visual legal para festas de criança.

UMA CLIENTE JÁ PEDIU PARA EU FAZER moicano num schnauzer, da ponta da cabeça até o rabinho. Ficou muito estranho. Os donos homens são mais simples. As madames gostam mais de frescura. Tenho problema mesmo quando aparece um casal. Aí eu tenho que agradar aos dois. Invento alguma coisa para não ter briga na casa dos outros.

GOSTARIA MUITO DE SER VETERINÁRIO. Mas agora não posso fazer faculdade. Tenho meu próprio canil. É impossível trabalhar, cuidar de nove cães e estudar. Sou noivo há sete anos. Talvez me case até o final do ano. Ela não tem problema algum com meus cachorros, e fala de brincadeira que eu cuido melhor deles do que dela mesma.

TUDO O QUE EU CONSEGUI EM SÃO PAULO foi por causa dos cães. Tenho muito carinho pelos animais, que dependem da gente. As pessoas podem se virar. Chego em casa e não tenho descanso, já que tenho que cuidar dos meus cachorros. Pelo menos eu nunca me sinto só com eles. Difícil vai ser me acostumar a morar com uma pessoa.
 

Meu Cãozinho © 2009.